A Júnia conhece muito bem a minha fama de não reconhecer atores em filmes. Quase sempre quando víamos algum filme a conversa era assim:
— Esse ator (atriz) fez que filme mesmo?!
— Ai, Nádia, esse é aquele ator (atriz) que você ADORA!!
— Ahhh é!! — pensativa — Mas qual o nome mesmo?!
No começo ela até falava o nome, mas depois de alguns anos, ela me lançava aquele olhar fulminante e se recusava a desvendar o mistério e eu passava o resto do filme sem prestar atenção na história, só tentando imaginar em que filme eu tinha visto o bendito(a) ou o nome dele(a)...Geralmente eu não conseguia nenhum dos dois e tinha que esperar os créditos finais pra depois procurar no IMDB e saciar minha curiosidade.
Eu não tenho culpa se só consigo reconhecer as verdadeiras celebridades do cinema...aliás, eu sou uma celebridade segundo o Facebook, já que o próprio não me deixou postar a MINHA foto no MEU perfil, alegando que eu não poderia usar fotos de celebridades como identificação!! É fato, só não sabia q minha fama tinha ido tão longe! hehehe
Pois bem, o problema é que, se eu não reconheço pessoas famosas, imaginem as “comuns” (entre aspas mesmo, porque ninguém é comum, certo?!).
Já entrei em loja e a vendedora veio feliz me atender:
— Oiiiiiii!! Você já foi do CEI, não é?! Lembra de mim?!
E eu tive que lançar meu sorriso mais simpático.
— Não... Desculpa, sou péssima fisionomista!
E a pessoa ainda insiste:
— Ahhh! Mas é porque eu tinha o cabelo assim assado...eu andava com a fulana e a beltrana... lembrou?!
E mais uma vez um sorriso e um aceno de cabeça seguido de um minúsculo e abafadinho:
— não...então, que vestido lindo, quanto é?!
Teve uma vez que a Júnia freqüentava uma igreja diferente de mim e no aniversário dela, marcamos pra ir num rodízio. Ela tinha chamado um pessoal da igreja...
A cena: Eu sentada comendo. Chega um amigo da Júnia da igreja. Ele olha pra mim e vem rindo falando:
— Eu te conheço... lembra de mim?!
Bendita pergunta que deveria ser banida da face da terra!! Eu com a boca toda cheia de pizza, não podia nem lançar meu sorriso simpático, só fiquei olhando com cara de bocó e ele completou:
— Alexandre, a gente estudou junto no IBCEI...a gente voltava de carona junto...
— Ahhhhh!! Alexandre...agora to lembrando!
ONFS!!
Fora os micos de não reconhecer, já entrei no elevador da UFRJ na minha primeira semana de aula, encontrei um carinha que já estava parado lá dentro quando a porta abriu no térreo e pedi:
— Sétimo, por favor!
O carinha nada...achei que eu tinha falado baixo, fui lá e eu mesma apertei o botão...saimos os DOIS no sétimo e só na sala fui descobrir que ele era meu colega de turma!!
ONFS...again!!
Agora, os mais recentes...
No início do ano, eu estava saindo pra almoçar quando um dos seguranças lá do trabalho veio todo sentido reclamar que eu passei por ele no centro da cidade, à noite e não falei com ele!! O caso é que ele trabalhava alguns dias da semana, no portão dos fundos por onde eu só passava na hora do almoço e, além disso, nossa “conversa” se limitava a um “oi, tudo bem?!” e um sorriso (é, eu sou risonha mesmo!), quando eu passava por ele nesse horário.
Agora imaginem minha situação: PROBLEMA EM RECONHECER PESSOAS + PESSOA FORA DO CONTEXTO + NOITE + ASTIGMATISMO = SITUAÇÃO DELICADA NO TRABALHO!
Tudo foi contornado com minha explicação de que sou péssima em fisionomia... contei pra ele a historinha de quando encontrei uma antiga amiga de colégio da Júnia no ônibus, bati altos papos com ela e meses depois, quando ela veio aqui em casa comentei sobre nosso encontro no ônibus e ela disse que não tinha encontrado comigo e muito menos que estudava no colégio cujo uniforme eu disse que ela estava usando! Ou seja, nunca reconheço e quando “reconheço” é a pessoa errada!! Acho que ele ficou satisfeito com a explicação e me perdoou pela antipatia do dia anterior!
Alguns meses atrás, eu estava voltando da faculdade junto com alguns colegas, e na nossa frente iam duas meninas conversando. Uma hora percebi que uma delas olhava pra mim sem parar...e andavam um pouco e ela virava pra trás e olhava de novo... e quem disse que eu lembrava de alguma coisa? Resolvi rir, acenar com a cabeça e pronto, ela sorriu de volta e continuou andando... Assunto encerrado, comentei depois no trabalho, brinquei falando que meu sucesso era tanto que já estava sendo reconhecida nas ruas e o assunto foi esquecido.
Ontem fui a uma papelaria no centro da cidade com a Maria (minha colega de trabalho) e quando entramos veio uma vendedora toda sorridente atender a gente, dar beijinhos e tal, mas ela eu sabia que já tinha trabalhado no Salesiano, só não lembrava em que setor, mas conversei como se eu lembrasse de TUDO!! E ela contou que também estuda lá na faculdade e que já me viu por lá e papo vai, papo vem... ok...fomos embora e hoje de manhã:
— MARIAAAA!!! Foi ela que eu encontrei voltando da faculdade!
Além de descobrir (será?!) minha "fã" misteriosa, também descobri que ela trabalhou numa função diferente da que eu imaginei que fosse... hehehehe
Quem sabe um dia viro uma Miranda Priestly do filme “O diabo veste Prada” e tenho duas assistentes pra me acompanhar e falar discretamente de onde eu conheço cada pessoa...até lá, vou sorrindo e acenando pra todo mundo que me reconhece nas ruas e torcendo pra ninguém me perguntar “Oiiii!! Lembra de mim?!”